segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A CRIANÇA E O FURACÃO


Eu rio quando penso...
Acho graça no pensamento porque o
sentimento
É de perplexidade.
A perplexidade de uma criança que vê um
furacão
Se aproximar pelo leste e sorri,
Achando tudo bonito e dando graças.
Até que o furacão chega
E sacode tudo em volta
E espalha a poeira
E revolve os papéis pelo chão
E destrói o que está podre,
E só o que resiste a ele é o solidamente firmado.
E,
Apesar da dor,
A criança ri alto
Porque o furacão brinca de roda com seus cabelos,
Levanta o seu vestidinho florido
E sacode as meias frouxas em torno das canelas,
Fazendo-lhe cócegas.
Ela joga os bracinhos para cima
E abraça o furacão.
E o furacão sorri e sossega...
Agora,
A perplexidade dá lugar
À transformação.
A criança agora é mulher
E já sabe sorrir com malícia.
Uma malícia ingênua, que beira a peraltice
Porque o gosto da malícia é estranho,
novo e lindo.
O corpo meio que desperta,
Tonto de prazer e de susto.
A alma abre os olhos e encara sua própria
face.
As emoções rompem a barreira do som
(música)
E se derramam sobre lençóis enrolados.
Agora,
A transformação dá lugar
À realidade.
A mulher agora é feliz
E não tem medo de nada.
A mulher agora
Possui o que é seu.
Re-aprendeu a viver.
Re-aprendeu a amar.
A cor do coração agora é outra...
O caminho agora é outro
E leva para algum lugar,
Finalmente.
A mulher sorri
Se lembrando
Da perplexidade da criança
E encara o furacão.
O furacão sorri com malícia,
Levanta o vestido florido
E lhe faz cócegas
Na barriga.
Ela fecha os olhos
Para beber de suas próprias lágrimas felizes.
Treme, geme,
E se sente linda
Porque se sente amada.
Se sente linda
Porque se sente amando.
Se sente linda
Porque ama, apenas ama.

CORPO

(essa é pro Drummond, meu segundo poeta predileto...)
Corpos celestes,
Corpos astrais,
Corpos geniais.
Corpos diferentes e iguais.
Corpos ardentes,
Pendentes de desejo.
Corpos dançantes,
Cantantes, vibrantes de vontade.
Corpos flutuam, brincam,
Amam a eternidade.
Corpos de verdade.
Corpos do corpo.
Corpo invisível,
Indizível, intransponível.
Corpo transparente,
Resplandescente, indivisível
E carente de amor.
Corpo torpor,
Sofredor...
Corpo vida e mundo,
Corpo raso e fundo,
Corpo primeiro e segundo.
Corpo único, inteiro.
Corpo-cor.
Corpo cheio de dor.
Cor por cor por corpo.

sábado, 15 de agosto de 2009

AH.. OS AMIGOS...

(...) A turma até que é das mais especiais.
E que momentos tenros eu tenho passado com eles! Sinto a vida entrar mais depressa quando os tenho por perto.
Fico rodeada de músicas e pessoas bonitas. E vieram em boa hora! Era do que eu mais precisava!
Tanto que a experiência de hoje provou que os amigos são importantes, mais ainda em situações delicadas.
E vem a velha frase: “mas a vida continua!”
Eu aceno e me mando, pra respirar o ar puro e novo de novíssimas amizades.
Dessas que saem por aí cantando, em plena rua, pelas madrugadas, se importando somente com a felicidade do próximo amigo tão próximo.
Dessas em que todos se abraçam formando um bloco único de sólida amizade, onde o calor dos corpos se perpetua até o infinito.
Dessas em que viajam 8 num fiat prêmio, na maior cantoria e alegria, aceitando o incômodo com sorrisos e piadas.
Dessas amizades que não precisam de palavras, mas de abraços e beijos, dessas em que não se esquece de nenhum amigo ausente e que qualquer incidente é motivo de comemoração.
Dessas em que todos criam e resolvem os problemas para todos, em que se ri e se chora junto, em que a palavra “compartilhar” é a mais usada.
Dessas amizades que não precisam ser procuradas, simplesmente porque já existem no coração de todos; nós é que não sabemos disso.
Eu precisei e todos me abraçaram; eu chamei e todos me sorriram; eu calei e todos se importaram.
Amizade, gente, é isso!
É como se fosse amor em conjunto, já que ninguém nunca quer deixar de se ver, já que todos trocam confidências e se ajudam mutuamente, já que todos falam e são ouvidos.
Onde todos cantam juntos, mesmo não sabendo cantar...
Onde todos se separam, só pra poder se juntar mais dali a pouco.
Amizade é ter e ser sempre uma surpresa para o outro.
É estender a mão e apertar mais de duas.
É trocar poemas e dedicar pensamentos.
É fazer as pazes antes de brigar, para não haver brigas.
É receber um abraço quando menos se espera, ou flagrar um sorriso e retribuir.
E outras tantas coisas infinitas.

Poderia passar a minha vida escrevendo sobre essa gente especial, mas não vou fazer isso. Prefiro sorrir pra eles e... ser feliz!
Se você olhar pra frente
Com amor,
Vai achar um amor bem na sua frente!

VOCÊ

Quero você sempre perto de mim,
Pois é com sua luz
Que eu enxergo a felicidade;
É com a sua força
Que eu sigo em frente;
São no seus olhos
Que eu vejo o amor;
É na sua boca
Que eu acho carinho;
São nos seus braços
Que eu me sinto em segurança;
É na sua voz
Que ouço doçura;
É no seu coração
Que eu encontro um lugar para mim.
Quero você sempre perto de mim,
Pra sempre...

COMEÇAR DE NOVO

Tudo está silencioso...
Não escuto nem o mar...
A lua me compreende e parou de falar,
Me deixando em paz com meus pensamentos.
Então, mergulho em mim mesma,
Indo resgatar no fundo da mente
Recordações que afundaram com o tempo, esquecidas.
Na superfície, aparecem cenas cheias de amor,
Momentos felizes que partilhei com ele.
Agora, esse mar vaza dos meus olhos
Inundando todo o meu rosto.
Esses mesmos olhos que viram tantas coisas em outros olhos,
Como amor, carinho e promessas,
Agora estão cegos pelas lágrimas.
Minhas mãos tremem,
Essas mesmas mãos que enlaçaram
Outras mais fortes e, ao mesmo tempo,
Carinhosas e suaves,
Agora parecem sem vida,
Quebradas como mãos de porcelana.
Meu corpo todo é sacudido pelos soluços que não consigo segurar.
Minha cabeça gira como se estivesse
Dentro de um redemoinho
Que me levasse cada vez mais para o fundo, sem volta.
Agora, minha consciência está escura.
Tudo está escuro: o céu, o mar...
Apenas uma luzinha fraca e tímida brilha ao longe.
Começo a prestar atenção nela
Enquanto se aproxima, aumentando de intensidade e tamanho.
Vou me acalmando, vendo, sentindo e ouvindo essa luz.
De repente, ela se apaga.
E eu vejo o céu e a lua,
Sinto a brisa fria no meu rosto,
Ouço o mar batendo na areia.
E volto à realidade:
Vou... começar de novo...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

DIÁRIO COR DE ROSA

Hoje, eu sonhei ao vivo com o Claudio Nucci, ontem eu cantei ao vivo Guilherme Arantes e sexta-feira eu vivi acompanhada.
Foi um fim de semana lindo, com acidente e tudo. Mas, apesar dessa sombra, meu sorriso brilhou o tempo todo.
Lógico... lógico que me senti feliz, apesar de algumas mínimas e insignificantes decepções que não me roubaram o brilho no olhar.
Não teve quase sol, mas teve lua até demais, e nem o dedo na boca da carência me fez perder o gosto pelo sonho.
Pedros, Paulos e Thiagos me tentaram, mas eu nem os conheço.
Na madrugada de sábado, um carro acabado e alguns pontos no rosto do rapaz ciumento.
Aquele abraço gordo do Mr. Fat, minha voz tranquila e afinada silenciando o tumulto alegre da turma de medicina do Fundão. Vale lembrar a comunicação da Gama Filho...
Muitos, muitos olhares de esguelha querendo prender os meus olhos, mas eu resisti e desviei, sorrindo para a minha mãe.
Domingo inteiro na companhia do meu pequeno mestre, meu inventor de moda e meu detetive predileto, além do meu telefone e de algumas vozes amigas que, de vez em quando, me chamavam de volta para a realidade. E não posso esquecer de citar meu fiel baralho!
E o Flamengo foi campeão... botou o galo pra cantar de frango...
E lá vou eu comemorar a meia lua com o Claudio, num show de magia e muita doçura que fez surgir do nada o meu duende predileto e único.
Ele trouxe o seu sorriso e o seu amigo lindo que tem um nome engraçado: Wadeco!
Viva Pedro, viva Toada, viva o moço do jeito que ele é, viva o piano e a gaita gata que encheram a noite de mais magia.
Veio um calor gostoso, a perna dormiu, o ar entrou mais forte nos pulmões e a pele se arrepiou ao ouvir a multidão cantando as palavras mágicas que transformarão o mundo num lugar mais humano, pois há muito que a delicadeza, a leveza e a beleza foram esquecidas.
Nada melhor do que o som cristalino das águas pra os lembrar disso tudo.
E, pra variar, vem aquela vontade louca de abraçar e ser abraçada, de beijar e ser beijada, de amar como nunca e de ser amada como nunca.
Pena que o sonho acaba feito doce de caramelo.
A gente lambe os dedos, os beiços e o papel de bala, mas não adianta. Mais cedo ou mais tarde, o gosto vai embora e o que fica é aquela suave sensação de vontade saciada querendo mais.
A gente bebe a água da boca e tenta se distrair com as banalidades do cotidiano, tentando não se preocupar com nada em especial.
Ajeita as almofadas, coloca uma fita amiga e fica olhando pro teto, louca para o telefone tocar e alguém te levar dali e te mostrar uma nova maneira de sonhar o mesmo sonho, comer o mesmo caramelo e, no entanto, continuar vivendo no mesmo planeta Terra.
Você sorri diante de tanta bobagem maravilhosa e dá a mão ao primeiro sorriso bonito na sua frente.
Não, não há nenhuma outra mão à frente, mas não tem importância...
Chame a sua melhor fantasia e saia por aí a passear de braços dados com ela, cuspindo nas almas em volta todo o arco-íris que te colore por dentro...
Êta, fim de semana incrível!
O tempo passou tão devagar, me mostrando as coisas que têm valor...
Mas... hoje é segunda-feira...
Meia hora de 2a feira e parece outro século!
Ontem estava há meia hora atrás e, no entanto, inalcançável para minhas mãos pequenas e possíveis.
Meu cabelo diferente antes agora cai como a velha cortina de sempre...
A luz acesa cria sombras familiares... os botões da minha camisa são os mesmo botões companheiros...
Nada mudou?
Não, impossível! Mudou, sim, tudo mudou! Senão não estaria aqui escrevendo até a mão doer!
...
É... mudou, sim... mas não foi a minha cabeça, nem o meu corpo, nem a minha atitude, nem a minha conversa, nam a minha roupa, nem o meu olhar, nem o meu abraço, nem o meu sorriso, nem o meu beijo, nem a minha música, nem a minha letra, nem o meu gênio, nem a minha vontade...
Mudou o meu sonho...
O meu sonho mudou...
Inchou, cresceu, brilhou, inflou, exclamou e explodiu...
pra nunca mais...
nunca mais ele será o mesmo...
o mesmo velho sonho de sempre...

A CANÇÃO


A melodia fica por conta do vento...
Eu faço a letra com a parceria da vida.
Com pouco tempo
E muitas ideias,
Eu vou escrevendo
E a vida me corrigindo,
Rabiscando o rascunho mais do que eu...
Já tentei parar, mas ela não deixou,
Parceira incansável
Entupida de inspiração.
Já tentei pular umas linhas,
Mas ela me fez voltar
Para economizar espaço.
Para ela, a canção é enorme,
Interminável...
Para mim, bastariam dois versos e um refrão
E eu me daria por satisfeita...
Mas a vida, não...
Ela quer mais, quer tudo!
Tentei ainda correr com a caneta
Pra ver se acabava logo,
Mas ela me prendeu a mão
E me fez ir com calma,
Pois isso de criação é muito sério
Pra não ser levado a sério.
Brigamos, nos arranhamos,
Conversamos.
Fizemos um pacto:
Que ela me inspirasse sempre,
Mas não interferisse no meu ritmo,
E que eu escrevesse sempre a nossa letra,
Sem jamais esquecer...
Para, um dia,
Cantarmos juntar toda a canção
De uma vida...

MELANCOLIA

Melancolia
É a felicidade sem muita alegria.
É saber-se feliz,
Mas não se sentir contente.
É sentir a mente flutuar,
É escapar por um triz da tristeza que ameaça
Nos dominar.
É o sorriso contido
Por uma lágrima inexplicável...
Uma lágrima feliz, talvez,
Mas que corre solta,
Em busca de alguma razão que a
justifique.
É o olhar lançado ao infinito
Como a buscar uma resposta
Para a pergunta que não foi feita.
É a vontade de falar
Reprimida pelo silêncio da boca.
Melancolia
É o lamento da noite
Que deixa o céu para o dia...

A RESPOSTA

Vôo em direção a mim mesma,
À procura daquela resposta
Que não acho em lugar algum...
Me perco no caminho
Me acho no ninho
Do sossego.
A fúria das ondas não me alcança, a
árvore é mais alta.
Acalmo meu coração impaciente,
Jogando fora toda a razão imprecisa...
Quero correr o universo,
Amar aquela flor...
Quero ser o universo da flor,
Num momento imenso.
Largo as mãos por aí,
Deixando um pouco de mim ao mundo confuso,
Complicado e belo...
Sugo meu próprio sangue,
Fazendo correr pelas veias a seiva da planta nova.
Busco a resposta em mim mesma,
E olho em volta e só vejo o breu.
Fecho os olhos e a luz desponta num canto...
Abro os braços, alçando voo
Como o beija-flor,
Que me beija,
Que me sente,
Que me quer,
Que te quer
E quer mais...
Quer a vida com uma resposta.

"EUNIGMA"


O vento passa pelo quarto
Como que por uma vida vazia.
A lágrima esbarra na boca
E eu sinto gosto de sangue.
A música me remete a lugar nenhum.
Mas me dá uma tristeza estranha,
Como se não fosse minha.
Ouço palavras sem entendê-las,
Mas elas me lêem, me decifram, me identificam.
E eu me deixo à revelia do vento,
Me preenchendo com ele,
Ouvindo a tempestade se embelezar
Para refrescar a terra.
É fim de verão...
É fim de década, de governo.
É o meu começo.
A música continua
E o meu choro infantil também.
Não é mais saudade,
Sou eu.
Eu não sou...
Não sei...
Não dói em lugar nenhum e essa ausência de dor
Cria um espaço na alma.
Não é fragilidade,
Não é complexidade,
Nem felicidade.
Nem espera.
Espera,
Espera pra ver comigo o que é...
Descobre comigo esse enigma
E me cobre de carinho.
Quero ser achada, entender a música,
Dançar com você.
Me espera...
Porque eu sei que você tá chegando.

PEDRO

Ela era assim. Também, com sol e lua em câncer, não poderia ser de outro jeito...
Ela era assim, romântica incorrigível, apaixonando-se a cada três meses. Lembrou-se dos últimos: Alexandre, do carnaval, que muito falou antes de beijá-la, o jeito moleque conquistando-a em minutos. E o Ney? Charmoso, alto e sorridente. Cercou-a na festa de aniversário da Thaís e bastou seus olhos se encontrarem para ela se encantar. Sem falar no Zé, mineirinho de olhos azuis, sonho distante não realizado.
Mas nenhum desses amores eternos durou mais do que uma noite. Os sonhos dela é que duravam dias, semanas, eram eternos... E lá estava ela novamente, sozinha , sorridente e melancólica. Ela era assim.
Ana saiu da pista de dança, sentou-se ao seu lado na mesa e cutucou-a, o copo de suco quase caindo:
- Cumé? Vai ficar aí olhando pra ontem ou vai dançar?
- Não aborrece, tô bebendo meu suco - berrou ela de volta, para ser ouvida por cima da música alta da boate.
- Você tá com esse canudinho na boca há um tempão, pô. É carência, é? - as duas riram e Ana roubou-lhe o copo. Bebeu um gole e fez uma careta - Irg! Isso já tá pra lá de aguado, credo! Vamos dançar, mulher!
- Ah, daqui a pouco. Agora tô pensando.
- E isso lá é hora de pensar?
- E lá tem hora pra pensar?!
- Sei lá! Mas, em plena boate? Você é maluca!
- Ah, isso eu sou mesmo, sou sua amiga!
Riram novamente, Ana dando-lhe outro cutucão. Levantou-se e voltou para o grupo que estava na pista. Ela voltou a sonhar.
Sonhava, mais uma vez, em encontrar naquela boate “ele”, o homem da sua vida. Nem que durasse aquela noite somente... É que ela precisava amar. Tomou um gole do suco e também fez uma careta: “Irg! Trem aguado!” e pousou o copo na mesa. Começou a brincar com o canudinho até que um peteleco mais forte virou o copo sobre ela. Não acreditou. Seu vestido bege mais bonito!
Ficou parada um longo minuto, olhando a mancha, sem saber se ria ou se chorava, até perceber o guardanapo que uma mão morena lhe estendia.
Pegou-o sem olhar para cima e começou a limpar, e sentiu, mais do que viu, alguém se inclinar para ela e dizer, em tom de zombaria:
- Não vai nem me agradecer?
Então, ela levantou os olhos e se deparou com dois pontos verdes encarando-a por cima do sorriso charmoso. Parou de limpar-se e ficou encarando aquele rapaz, e o sorriso zombeteiro dele foi morrendo aos poucos. Somente quando o estranho desviou os olhos para a sua boca é que ela despertou e sacudiu a cabeça:
- Desculpe, obrigada pelo guardanapo, sou muito estabanada mesmo... - e voltou a esfregar o guardanapo inútil na roupa. Ele não se mexeu, continuou inclinado sobre ela até que ela voltou a encará-lo - Que foi?
- Não sei. Gostei de ficar te olhando.
Ela baixou os olhos sobre o vestido arruinado novamente e desistiu. Ele finalmente sentou-se ao seu lado:
- Posso sentar?
Ela apenas riu. Ele olhou em volta e ficaram um pouco em silêncio. Ele tentou novamente:
- Você não está sozinha aqui, está? - ela apenas negou com a cabeça, voltando a brincar com o canudo no copo vazio. Ele olhava seu perfil, as luzes difusas e coloridas da boate brincando em seus olhos - Você fala, que eu sei.
Ela riu de novo e finalmente respondeu:
- Falo, mas só quando estou com vontade.
- Isso quer dizer que não tá com vontade de falar comigo?
- Não com palavras... - ela o encarou de soslaio e voltou ao canudo. Ficaram em silêncio novamente, a música e o barulho do lugar preenchendo o espaço entre eles.
- Você é sempre assim? - ela negou com a cabeça de novo - É comigo, então? - ela sorriu - O canudinho tá tão interessante assim? - ela largou o canudo e olhou para as unhas. - Olha, como um bom leonino eu gosto de atenção. Mais um silêncio desses e eu vou embora - ela o encarou séria por um outro longo momento e murmurou:
- Não, fica...
Ele não ouviu, mas entendeu. Foi a vez de ele desviar o olhar e ficar em silêncio. Ela sorriu de leve e viu que ele sorriu também. Estavam se entendendo...
Agora, os dois olhavam para as unhas dela. Ele estendeu a mão e apanhou a dela. Brincou com seus dedos e acabou beijando a palma. Ela sorriu, ele chegou mais perto, seus olhos verdes iluminando o olhar castanho dela. Beijaram-se, conhecendo-se. Era como uma confirmação para ela, que abriu os olhos para acreditar que não estava sonhando. Abraçaram-se, um carinho imenso, vindo não se sabe de onde, aconchegava um nos braços do outro. Beijaram-se e abraçaram-se muito, como a descontar o tempo perdido. Não falavam, mas sorriam, só os olhos falavam.
O tempo passou, o amor ali namorando. Ela o via de olhos fechados, os verdes olhos bem perto. Sentia suas mãos fortes descobrindo seus mais bobos segredos. Explorava com suas próprias mãos aquele rosto de repente tão íntimo.
Finalmente, se separaram:
- Eu já conheço você - ela negou com a cabeça - Em outra vida? - ela deu de ombros:
- Mas é bom, não é?
- O quê?
- Se sentir tão bem assim... - ele sorriu - Quer casar comigo?
- Hein? - ele arregalou os olhos. Ela fez uma careta.
- Tsc, ah, deixa pra lá.
Novamente o silêncio, esse amigo. Logo ele ofereceu:
- Quer uma bebida? - ela balançou a cabeça - Eu vou apanhar um chopp pra mim.
- Não precisa voltar, se não quiser.
Ele a encarou, confuso, e acabou respondendo com um beijo suave e macio, e um pouco medroso, talvez. Ele se foi, desaparecendo no meio de tanta gente e pouca luz. Dali a pouco, sua amiga Ana apareceu:
- Já estamos indo embora. Você vai com a gente?
Ela encarou a amiga, um vazio de repente deixando-a sem ar. Ana gritou de novo - A gente já vai, você ouviu?
- Mas... por quê?
- Ué, já tá na hora, mulher! Você vai com o cara que está com você? Aliás, que gato! Como é o nome dele?
Ela olha para o canudo, confusa:
- Eu... eu não sei...
Ana se sentou ao seu lado, surpresa:
- Não sabe? Como não sabe? Você é maluca? Tá há horas com o cara aí e nem sabe o nome dele?! Então, vem com a gente?
Ela olha para a direção por onde ele desapareceu, fica triste, apanha sua bolsa e se levanta. Vai atrás da amiga, se espremendo e se desviando daquelas pessoas estranhas, o lugar ficando de repente mais escuro.
Está chegando na porta para pagar quando sente um toque quente e conhecido no braço. Sorri, antes mesmo de se virar, porque seu corpo já conhece aquela mão. Topa com o sorriso dele:
- Você ia fugir... - ela nega com a cabeça - Demorei porque o bar estava muito cheio - ela olha para as unhas - Você ia embora sem se despedir? - ela o abraça, querendo ficar assim para sempre, encostada naquele peito tão aconchegante. Ele beija seus cabelos, sua testa, sua boca - Vai me dar o seu telefone? - ela fica olhando-o com um leve sorriso - Que foi?
- Gosto de te olhar... - lhe dá um leve beijo, tira da bolsa um bloquinho com caneta, escreve seu nome e telefone. Antes de entregar o papel, diz: - Só se você me ligar.
- Só vou ligar se você sair comigo - Ambos sorriem, ele pega o papel e lê -Agora eu sei o seu nome. Não vai querer saber o meu?
-É Pedro...
Ele fica surpreso:
- Como é que você sabe?
- Só podia ser... É o nome que eu mais adoro no mundo... - sorriem, se beijam numa longa despedida. Vê Ana impaciente fazendo-lhe sinais na saída. Se despede de Pedro com um olhar sorridente, vai embora, mais leve, um pouco ausente, doendo um pouco por ter de deixá-lo. Estava apaixonada. Perdidamente.
Ana vem ao seu encontro:
- Ai, eu conheço esse olhar... outra vez? - ela dá de ombros.
- Amiga, ele é maravilhoso, ele tem um nome maravilhoso...
- Ah, pelo menos agora sabe o nome dele. E qual é?
- Pedro...
- Ah, claro, tinha de ser. O nome dos seus sonhos.
- O nome, o homem, tudo!
- Ih! Lá vamos nós outra vez! - as amigas se abraçam e seguem para o carro. Ela ergue os olhos para a noite e avista a lua. Agradece por mais essa linda imagem e respira fundo, sentindo a vida.
Vai para casa dormir, para sonhar com Pedro...

NECESSIDADE CRIATIVA

Meia lua inteira no meu olhar.
Sopapo na cara da decepção.
entrangeira
Numa terra conhecida.
Um engano não me enganou.
Muita gente em volta,
Muito pensamento aqui dentro.
A vontade do sonho pacifista,
Do olho olhando
Dentro do seu olhar carinhoso.
Tá na cara que o medo faz sorrir.
Pegar carona nesse sorriso,
Sorrir,
Achar que está agradando.
É toda boa essa expectativa.
São terríveis os momentos de vazio,
Sem sua presença enchendo a minha
barriga.
É que a fome de amor é enorme.
Quem vê até pensa que eu tô bem...
E tô...
Se você tivesse acontecido do jeito que
eu canto
Que eu não sei se é o jeito certo...
São românticos segredos,
Livros de amor,
Uma parte em que eu estava.
Mas, agora, me perdi
No seu coração que, de tão grande,
Me fez sumir no meio de tanta luz.
Uma rua sem nome,
Um papel sem viço,
Um sentimento sem razão...
É pra perder
A inocência...
Nas estrelas.

UMA AULA DE WALDER VIRGULINO


Arrancar a emoção
Arrancar a pele da indiferença
Rastejar na lama do desespero
Fustigar a paz com o vento do desassossego
Chorar
Berrar
Sentir a dor da violência
Ser violentada pela arte sem perdão
Emocionar-se com a palavra
Com o silêncio
Com o olhar
Deixar-se afogar no mar da desesperança
Para alcançar a tranquilidade do abismo
Despertar, soltar o demônio
Morrer de medo
Jogar-se contra o muro do desprezo
Arrancar o ranço, a gosma, e
Se abrir ao novo
Ao belo
Ao violentamente belo
Deixar-se levar pela maré do deconhecido
Para encontrar a ilha da surpresa
Amar o que se faz
Trabalhar com amor
Chorar de emoção
Sentir-se gente
Sentir-se humano
Fazer da arte sua vida a cada segundo
Esperar, mas não sentado
E, sim, agindo
Fazendo arte
Respirando
Vivendo arte
Sendo
Arte.

EU

Eu...
Quem sou,
O quê sou eu?
...
Sou um enigma que não consigo decifrar.
Sou um mistério que não sei revelar.
Sou uma dúvida que não posso tirar.
Tudo e nada
Eu sou.
Sou sólida e sou abstrata.
Sou amor, sou ódio,
Alegria e tristeza.
Eu sou o meu eu e o eu é ninguém.
Sou o vácuo;
Sou o universo;
Sou a estrela que brilha ao longe;
Sou a pedra que afunda nas águas calmas
De um lago;
Sou o vento de todos os lugares.
Sou a alma, a essência de Deus.
Sou o anjo do inferno com asas de fogo.
Sou o sorriso da criança,
Sou a lágrima da amante,
Sou o perfume do mar,
Sou o odor das flores perdidas pelo campo.
Sou a lembrança esquecida
E o esquecimento lembrado.
Sou a paixão que o amor desperta.
A vida que a morte rouba,
O bejo eterno
Do mar com o céu, no horizonte inalcançável.
Sou o horizonte...
Sou o sol que se apaga;
Sou a treva criada pela luz.
Sou o que sou
E nem sei o que sou.

GOZO

Não que tenha explicação.
É como se fosse magia.
Aquela brincadeira que a gente brincou na infância.
Nunca te vi,
Nunca vou te esquecer...
O copo vazio é mais do que ausência,
O gelo derretendo é mais do que o tempo pingando
Dos meus olhos.
Tudo é uma questão de sorriso.
Seus dentes brilhando
Seus olhos...
A lua é apenas um enfeite;
O sol, sua presença.
Luz jamais vai me faltar.
Você me faz uma falta!

Você sabe sobre quem está lendo?

Minha foto
Rio de Janeiro
Um EUNIGMA, até para mim mesma