quinta-feira, 13 de agosto de 2009

PEDRO

Ela era assim. Também, com sol e lua em câncer, não poderia ser de outro jeito...
Ela era assim, romântica incorrigível, apaixonando-se a cada três meses. Lembrou-se dos últimos: Alexandre, do carnaval, que muito falou antes de beijá-la, o jeito moleque conquistando-a em minutos. E o Ney? Charmoso, alto e sorridente. Cercou-a na festa de aniversário da Thaís e bastou seus olhos se encontrarem para ela se encantar. Sem falar no Zé, mineirinho de olhos azuis, sonho distante não realizado.
Mas nenhum desses amores eternos durou mais do que uma noite. Os sonhos dela é que duravam dias, semanas, eram eternos... E lá estava ela novamente, sozinha , sorridente e melancólica. Ela era assim.
Ana saiu da pista de dança, sentou-se ao seu lado na mesa e cutucou-a, o copo de suco quase caindo:
- Cumé? Vai ficar aí olhando pra ontem ou vai dançar?
- Não aborrece, tô bebendo meu suco - berrou ela de volta, para ser ouvida por cima da música alta da boate.
- Você tá com esse canudinho na boca há um tempão, pô. É carência, é? - as duas riram e Ana roubou-lhe o copo. Bebeu um gole e fez uma careta - Irg! Isso já tá pra lá de aguado, credo! Vamos dançar, mulher!
- Ah, daqui a pouco. Agora tô pensando.
- E isso lá é hora de pensar?
- E lá tem hora pra pensar?!
- Sei lá! Mas, em plena boate? Você é maluca!
- Ah, isso eu sou mesmo, sou sua amiga!
Riram novamente, Ana dando-lhe outro cutucão. Levantou-se e voltou para o grupo que estava na pista. Ela voltou a sonhar.
Sonhava, mais uma vez, em encontrar naquela boate “ele”, o homem da sua vida. Nem que durasse aquela noite somente... É que ela precisava amar. Tomou um gole do suco e também fez uma careta: “Irg! Trem aguado!” e pousou o copo na mesa. Começou a brincar com o canudinho até que um peteleco mais forte virou o copo sobre ela. Não acreditou. Seu vestido bege mais bonito!
Ficou parada um longo minuto, olhando a mancha, sem saber se ria ou se chorava, até perceber o guardanapo que uma mão morena lhe estendia.
Pegou-o sem olhar para cima e começou a limpar, e sentiu, mais do que viu, alguém se inclinar para ela e dizer, em tom de zombaria:
- Não vai nem me agradecer?
Então, ela levantou os olhos e se deparou com dois pontos verdes encarando-a por cima do sorriso charmoso. Parou de limpar-se e ficou encarando aquele rapaz, e o sorriso zombeteiro dele foi morrendo aos poucos. Somente quando o estranho desviou os olhos para a sua boca é que ela despertou e sacudiu a cabeça:
- Desculpe, obrigada pelo guardanapo, sou muito estabanada mesmo... - e voltou a esfregar o guardanapo inútil na roupa. Ele não se mexeu, continuou inclinado sobre ela até que ela voltou a encará-lo - Que foi?
- Não sei. Gostei de ficar te olhando.
Ela baixou os olhos sobre o vestido arruinado novamente e desistiu. Ele finalmente sentou-se ao seu lado:
- Posso sentar?
Ela apenas riu. Ele olhou em volta e ficaram um pouco em silêncio. Ele tentou novamente:
- Você não está sozinha aqui, está? - ela apenas negou com a cabeça, voltando a brincar com o canudo no copo vazio. Ele olhava seu perfil, as luzes difusas e coloridas da boate brincando em seus olhos - Você fala, que eu sei.
Ela riu de novo e finalmente respondeu:
- Falo, mas só quando estou com vontade.
- Isso quer dizer que não tá com vontade de falar comigo?
- Não com palavras... - ela o encarou de soslaio e voltou ao canudo. Ficaram em silêncio novamente, a música e o barulho do lugar preenchendo o espaço entre eles.
- Você é sempre assim? - ela negou com a cabeça de novo - É comigo, então? - ela sorriu - O canudinho tá tão interessante assim? - ela largou o canudo e olhou para as unhas. - Olha, como um bom leonino eu gosto de atenção. Mais um silêncio desses e eu vou embora - ela o encarou séria por um outro longo momento e murmurou:
- Não, fica...
Ele não ouviu, mas entendeu. Foi a vez de ele desviar o olhar e ficar em silêncio. Ela sorriu de leve e viu que ele sorriu também. Estavam se entendendo...
Agora, os dois olhavam para as unhas dela. Ele estendeu a mão e apanhou a dela. Brincou com seus dedos e acabou beijando a palma. Ela sorriu, ele chegou mais perto, seus olhos verdes iluminando o olhar castanho dela. Beijaram-se, conhecendo-se. Era como uma confirmação para ela, que abriu os olhos para acreditar que não estava sonhando. Abraçaram-se, um carinho imenso, vindo não se sabe de onde, aconchegava um nos braços do outro. Beijaram-se e abraçaram-se muito, como a descontar o tempo perdido. Não falavam, mas sorriam, só os olhos falavam.
O tempo passou, o amor ali namorando. Ela o via de olhos fechados, os verdes olhos bem perto. Sentia suas mãos fortes descobrindo seus mais bobos segredos. Explorava com suas próprias mãos aquele rosto de repente tão íntimo.
Finalmente, se separaram:
- Eu já conheço você - ela negou com a cabeça - Em outra vida? - ela deu de ombros:
- Mas é bom, não é?
- O quê?
- Se sentir tão bem assim... - ele sorriu - Quer casar comigo?
- Hein? - ele arregalou os olhos. Ela fez uma careta.
- Tsc, ah, deixa pra lá.
Novamente o silêncio, esse amigo. Logo ele ofereceu:
- Quer uma bebida? - ela balançou a cabeça - Eu vou apanhar um chopp pra mim.
- Não precisa voltar, se não quiser.
Ele a encarou, confuso, e acabou respondendo com um beijo suave e macio, e um pouco medroso, talvez. Ele se foi, desaparecendo no meio de tanta gente e pouca luz. Dali a pouco, sua amiga Ana apareceu:
- Já estamos indo embora. Você vai com a gente?
Ela encarou a amiga, um vazio de repente deixando-a sem ar. Ana gritou de novo - A gente já vai, você ouviu?
- Mas... por quê?
- Ué, já tá na hora, mulher! Você vai com o cara que está com você? Aliás, que gato! Como é o nome dele?
Ela olha para o canudo, confusa:
- Eu... eu não sei...
Ana se sentou ao seu lado, surpresa:
- Não sabe? Como não sabe? Você é maluca? Tá há horas com o cara aí e nem sabe o nome dele?! Então, vem com a gente?
Ela olha para a direção por onde ele desapareceu, fica triste, apanha sua bolsa e se levanta. Vai atrás da amiga, se espremendo e se desviando daquelas pessoas estranhas, o lugar ficando de repente mais escuro.
Está chegando na porta para pagar quando sente um toque quente e conhecido no braço. Sorri, antes mesmo de se virar, porque seu corpo já conhece aquela mão. Topa com o sorriso dele:
- Você ia fugir... - ela nega com a cabeça - Demorei porque o bar estava muito cheio - ela olha para as unhas - Você ia embora sem se despedir? - ela o abraça, querendo ficar assim para sempre, encostada naquele peito tão aconchegante. Ele beija seus cabelos, sua testa, sua boca - Vai me dar o seu telefone? - ela fica olhando-o com um leve sorriso - Que foi?
- Gosto de te olhar... - lhe dá um leve beijo, tira da bolsa um bloquinho com caneta, escreve seu nome e telefone. Antes de entregar o papel, diz: - Só se você me ligar.
- Só vou ligar se você sair comigo - Ambos sorriem, ele pega o papel e lê -Agora eu sei o seu nome. Não vai querer saber o meu?
-É Pedro...
Ele fica surpreso:
- Como é que você sabe?
- Só podia ser... É o nome que eu mais adoro no mundo... - sorriem, se beijam numa longa despedida. Vê Ana impaciente fazendo-lhe sinais na saída. Se despede de Pedro com um olhar sorridente, vai embora, mais leve, um pouco ausente, doendo um pouco por ter de deixá-lo. Estava apaixonada. Perdidamente.
Ana vem ao seu encontro:
- Ai, eu conheço esse olhar... outra vez? - ela dá de ombros.
- Amiga, ele é maravilhoso, ele tem um nome maravilhoso...
- Ah, pelo menos agora sabe o nome dele. E qual é?
- Pedro...
- Ah, claro, tinha de ser. O nome dos seus sonhos.
- O nome, o homem, tudo!
- Ih! Lá vamos nós outra vez! - as amigas se abraçam e seguem para o carro. Ela ergue os olhos para a noite e avista a lua. Agradece por mais essa linda imagem e respira fundo, sentindo a vida.
Vai para casa dormir, para sonhar com Pedro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você sabe sobre quem está lendo?

Minha foto
Rio de Janeiro
Um EUNIGMA, até para mim mesma